Cada manhã
O rio desponta obcecante.
A tabuleiro estendido, de braços abertos
Serve uma dose mágica de ebulição.
As combustões eletrificam os ares.
E os momentos em suspensão
São dores, espasmos de coisas
Que ainda não são.
Paulo José Borges
Rui Cavaleiro
domingo, 23 de março de 2014
sexta-feira, 21 de março de 2014
A felicidade (no dia da poesia)
A felicidade
Cai
No lado errado
Da Sorte.
A felicidade
Cai
Longe das minhas mãos.
A felicidade
despenha-se
entre as árvores
toda a gente se queixa.
Sam Shepard
Cai
No lado errado
Da Sorte.
A felicidade
Cai
Longe das minhas mãos.
A felicidade
despenha-se
entre as árvores
toda a gente se queixa.
Sam Shepard
segunda-feira, 17 de março de 2014
Reboot
At the end of the day, como diz o outro,
O que há lá para nós?
Um cansaço baço, denso, propenso a distensões,
dissensões do ser.
Por inércia não se tem pressa, por inépcia
Se descarrega o tónus, o alor.
Se não se sopesa, se não se vigia, ora...
Monitor going to sleep.
Paulo José Borges
O que há lá para nós?
Um cansaço baço, denso, propenso a distensões,
dissensões do ser.
Por inércia não se tem pressa, por inépcia
Se descarrega o tónus, o alor.
Se não se sopesa, se não se vigia, ora...
Monitor going to sleep.
Paulo José Borges
domingo, 9 de março de 2014
Poema com sabor d’agora e pedaços de futuro
e uma pitada de Verão
Vais ouvir se te deres
Conta
Meio avião a ancorar nas rochas,
Meio circo de ilusionistas acrobatas
De segredos,
Meio oceano a estourar-te
Com as ondas nas costas
Onde páras a pensar.
Vais percorrer se te deres
Tempo
Tempo
Meio sentimento bem voraz
A formigar-te no peito,
Tempestades também às metades
A perfurar-te o impaciente momento
Onde estás a amar.
Vais saborear com todos os dentes
Os frutos sãos e doentes
E agarrar com todas as unhas
Tudo o que te passe pela frente.
Mas de repente,
Ao recordares a stracciatella, o morango,
O chocolate ou o pistacho
Vais querer saber:
De tudo o que encontrei e que perdi
O que é que eu acho?
Paulo José Borges
sexta-feira, 7 de março de 2014
Júpiter, o Zeus
Eu não gosto de dar concílios
Mas abro-vos uma excepção:
Quem manda sou eu
Queirais ou não.
Bebe menos, Baco
Deixa os nautas em paz. Se quiserem
Chegar à Índia tanto te faz
Que a tua divindade t' abaste.
E tu, Vénus, não te armes em bela, citereia, serena, sereia
ou o que seja, eia!
Se Roma amas bom gosto te bafeja
Porém, to garanto
O mais nefasto dos castigos, sabe-lo bem,
É o da inveja.
Que não me acordeis, sonegando-me lençóis
Em cadeia.
Os lusos não nos merecem austeros.
Que voguem, naufraguem como se não
Existamos.
Ide, eu vos reconcilio.
(Se for preciso)
Paulo José Borges
Mas abro-vos uma excepção:
Quem manda sou eu
Queirais ou não.
Bebe menos, Baco
Deixa os nautas em paz. Se quiserem
Chegar à Índia tanto te faz
Que a tua divindade t' abaste.
E tu, Vénus, não te armes em bela, citereia, serena, sereia
ou o que seja, eia!
Se Roma amas bom gosto te bafeja
Porém, to garanto
O mais nefasto dos castigos, sabe-lo bem,
É o da inveja.
Que não me acordeis, sonegando-me lençóis
Em cadeia.
Os lusos não nos merecem austeros.
Que voguem, naufraguem como se não
Existamos.
Ide, eu vos reconcilio.
(Se for preciso)
Paulo José Borges
segunda-feira, 3 de março de 2014
De mãos dadas
Foi depois do fim das aulas.
Passaram o portão de ferro da escola
e deram as mãos
para atravessarem a rua.
E, de mãos dadas, formaram
uma corrente
tão poderosa, tão compacta,
que o trânsito teve mesmo de parar
e ficou completamente imobilizado. Não vou ceder
agora à tentação
de afirmar que assisti
à materialização de um milagre,
afinal é coisa
que deve estar sempre a acontecer,
em algum lugar, ao fim
da manhã ou da tarde, logo
depois das aulas,
dois adolescentes dão
as mãos, atravessam a rua, bloqueiam
a circulação rodoviária
de uma cidade.
Mas pensa nisso por um segundo,
pensa na força dessa corrente.
Luís Filipe Parrado
Foi depois do fim das aulas.
Passaram o portão de ferro da escola
e deram as mãos
para atravessarem a rua.
E, de mãos dadas, formaram
uma corrente
tão poderosa, tão compacta,
que o trânsito teve mesmo de parar
e ficou completamente imobilizado. Não vou ceder
agora à tentação
de afirmar que assisti
à materialização de um milagre,
afinal é coisa
que deve estar sempre a acontecer,
em algum lugar, ao fim
da manhã ou da tarde, logo
depois das aulas,
dois adolescentes dão
as mãos, atravessam a rua, bloqueiam
a circulação rodoviária
de uma cidade.
Mas pensa nisso por um segundo,
pensa na força dessa corrente.
Passaram o portão de ferro da escola
e deram as mãos
para atravessarem a rua.
E, de mãos dadas, formaram
uma corrente
tão poderosa, tão compacta,
que o trânsito teve mesmo de parar
e ficou completamente imobilizado. Não vou ceder
agora à tentação
de afirmar que assisti
à materialização de um milagre,
afinal é coisa
que deve estar sempre a acontecer,
em algum lugar, ao fim
da manhã ou da tarde, logo
depois das aulas,
dois adolescentes dão
as mãos, atravessam a rua, bloqueiam
a circulação rodoviária
de uma cidade.
Mas pensa nisso por um segundo,
pensa na força dessa corrente.
Luís Filipe Parrado
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