sexta-feira, 29 de abril de 2016

Poema do Tupperware



“Um homem tão grande
tem tudo o que quer”
in Poema do fecho éclair de António Gedeão



Abro gavetas, abro gavetões, abro portas
E de olhos esbugalhados saltitam, pululam caixas, caixinhas, tampas, tampinhas.
Azuis clarinhas, laranjas, amarelas, vermelhas, caixas novas, caixas velhas,
Caixas de plástico - de pvc, saltam com molas por todo lado, até no wc.


Filipe segundo tinha talheres de prata,
Só não tinha onde guardar bacalhau com nata.


Tapa tampas de tupperware
Para todas as comidas, todos os restos, para uma serventia qualquer.
Leva um pouco de bolo que sobrou, do assado que queimou,
Leva senão passo meses agoniado em plástico hermético fechado.


Pouco faltava ao grande que dormia em cama de prata maciça, Filipe, senhor do mundo.
Talvez, como a ti, apenas lhe faltasse ouvir o silêncio um só segundo.



                                                                       Paulo José Borges

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