quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Poema fotovoltaico

Vivi na rua do Sol Poente
Mas o apartamento dava para a rua Sol Nascente
A sério.

Agora avariou-se-me o termostato
Ora o sol é incandescente
Ora morde algidamente
A sério.


                                                  Paulo José Borges

domingo, 8 de janeiro de 2017

Poema da luz

«...já reparaste como as pessoas olham para nós? É porque temos uma luz.»
A Terceira Rosa, Manuel Alegre.

Por muito que me custe admitir, confessar?, já te vejo ao longe,
Beijo-te muito ao longe.
Já me impeli a partir e os passos não me tropeçam tanto.
Já te vejo, acredita, já te vejo pequenina, recém-crescida,
A sorrires com os teus melhores abraços.

Subo mais alto, uso a palma da mão para que a luz não me cegue, e estou
Cada vez mais certo: vens em missão, salvar-me com vento, despentear-me todo
E fazeres-te toda unguento.

Os meus olhos não me mentem, até porque agora os mantenho fechados,
Como noiva a duvidar até ao último momento,
E os meus átomos já se alinham todos cavalheiros,
Segurando a porta que trouxeste contigo.


                                                                                 Paulo José Borges

                desenho de Rui Cavaleiro
ouça aqui