domingo, 7 de outubro de 2018

Eurídice de Campanhã


À barca, à barca segura,
barca bem guarnecida,
à barca, à barca da vida!
Auto da Barca do Inferno, Gil Vicente.


Se porventura conceberes a ideia de
a ires levar à estação,
não temas Caronte -
- paga-lhe o óbolo em lágrimas de ferro.

No cais, como mortos, muitos esperam
o seu destino. Uns entram sem mais delongas,
despachando os entes queridos sem malas 
a abanar. Outros entram alijando o lastro
e saem de novo como que enredados em
pesca de cerco. Os últimos, como que
desmemoriados, fazem vagas contas de
cabeça, indagando se será ainda 
possível reaver o dinheiro da passagem.

Mas o homem do leme é implacável
e levanta o mastro encarnado para que
a barca levante ferro, (como as lágrimas,
não esqueças.)

É tempo de te armares guerreiro,
de sorrires com todas as cores,
porque, no fim de contas, não és tu 
quem vai em campanha para o estrangeiro.
(Tu ficas no cais, não sejas parvo, 
não baralhes os papéis.)
Sustenta a oxidada neblina que te toldar 
os olhos quando a saída do comboio
for de um longo e largo comprimento.

Tempos mais tarde, se fores favorecido
pela potência da lírica, atravessarás
os portões de ferro e, no final da
tua fabulosa tournée, trá-la-ás contigo.
(Leva palas.)

                                         Paulo José Borges

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quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Ti voglio bene

Quero-te bem e
por isso quero-te bem.

Quero-te com saúde e
quero-te.

Quero-te feliz e
quero-te.

Quero-te realizada nas
mil e uma coisas com
que preenches os teus dias e
quero-te.

Quero-te completamente livre e
quero-te.

Mas sobretudo,
não sei se me faço entender,
quero-te bem.


                         Paulo José Borges

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