quinta-feira, 11 de julho de 2019

Viver de aparências


Sucedia às vezes
à porta da estação de S. Bento
a minha mãe comprar chocolate sucedâneo.

Procediam de Espanha as tabletes 
com vago sabor a cacau
que entravam aos quadrados racionados
no comboio da nossa digestão.

Era uma ficção consentida
uma ensaiada suspensão da incredulidade.
Fazíamos de conta como crianças amestradas
pois representando bem era chocolate suíço.

Ora também Platão nos concebia como
sucedâneos de uma arquetípica criação.
E assim com estes últimos versos extraímos
uma importante lição.


                                                         Paulo José Borges

terça-feira, 2 de julho de 2019

Impasse de dança

o teu silêncio é música
o teu não adivinhado é música
o teu olhar
o teu impossível olhar é música
a tua voz é música
as tuas mãos música são
e bem assim o teu não.

mas o teu corpo é orquestra
nem me importo se ainda não é desta.


                        Paulo José Borges