Começou por me dizer que o seu caso era simples – e que se chamava Macário...
Eça de Queirós in «Singularidades de uma rapariga loira»
O meu caso deveria ser simples, embora não me chame
Macário.
Encontrei a rapariga loira despida nos ombros e, sem pestanejar,
- Logo eu que de hesitações me alimento -
Aflorei um dos seus bronzeados ombros com meus lábios diligentes.
Simples.
Não o fiz inocentemente, não o fiz dolosamente. Só simplesmente.
Compreendi mais tarde que a marca do meu inexistente batom
Não lhe saía nem por nada. Uma ferida que nenhum unguento
Cicatrizava.
O chão não tremera, as borboletas não esvoaçaram,
Mas a sua reação foi tão singular que acreditei que aquele beijo sozinho não ia
Ficar.
Anos se passaram (aqui uma ligeira prolepse). Poucos mais beijos foram dados
E levados, mas tatuados ficaram em meus ossos de poeta ultra-romântico.
Se eu pudesse roubava-lhe mais alguns deles, que de mim fizeram cleptomaníaco.
Mas sei que nunca me perdoará, quando em desvario lhe disse:
Vai-te! Vai-te.
Paulo José Borges
Rui Cavaleiro