estão a chegar as festas
as boas
põe-se um vinil à lareira
e deixa-se tocar.
que seja uma coisa da época
que seja uma coisa intemporal.
vira o disco e toca o mesmo
e já se passa pelas brasas.
(depois de farto repasto
vem mesmo a calhar.)
volta-se à infância desde o início
pedindo-se de empréstimo olhos
às crianças deste tempo
e tudo volta a girar.
põe-se um vinil à lareira
e ouve-se o crepitar.
quem gosta dos discos antigos
não sabe explicar.
mas desconfio que é o abraço da agulha
traçando os sulcos que é mesmo
uma lareira a lembrar.
põe-se um vinil à lareira
e tu voltas a estar.
Paulo José Borges
áudio por aqui
terça-feira, 18 de dezembro de 2018
domingo, 9 de dezembro de 2018
Estado estacionário
"Two roads diverged in a yellow wood,
And sorry I could not travel both
And be one traveler, (...)"
Robert Frost
Sabes que mais:
não gosto nada de encruzilhadas
nem de entroncamentos
e as bifurcações são a língua afiada
das serpentes e não é coisa bonita
de se ver.
As encruzilhadas estão sempre
aí ao virar da esquina, esfíngicas,
aí ao virar da esquina, esfíngicas,
mas com um senão:
os enigmas que nos colocam são só
silêncios. Fazem da mudez interrogação.
As encruzilhadas são encruzilhadas
de encruzilhadas
e isso faz-me toda a indiferença.
e isso faz-me toda a indiferença.
As encruzilhadas são o clima mais
desértico do mundo, por vezes subitamente
pontuado por multas das brigadas de
trânsito que abominam o isolamento
tanto quanto tu e eu.
A linguagem da encruzilhada, se eu a entendesse,
seria quase indecifrável como a caligrafia
de aluno pouco escorado em conhecimento
em dia de teste
com o tempo contado.
com o tempo contado.
Desconfio, não sei se concordas comigo,
que quem entender a língua da encruzilhada
deve ser fluente em desesperanto.
deve ser fluente em desesperanto.
Paulo José Borges
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