segunda-feira, 29 de agosto de 2016

A curva do amor (lido por Rui Cavaleiro)

A curva do amor

O amor quando acordou de manhã foi dar uma curva
Andou de dança tentacular como se tivesse oito vidas.
Deixou veneno polvilhado em todo o corpo do ser amado.
Tão grande era sua persistência que com mil olhos
Aumentava a sua aderência.

Mas a mulher no final
Só viu pó no fim do sonho. Ou como se diz em espanhol
Polvo.


                  Paulo José Borges


desenho de Rui Cavaleiro

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Objects in the mirror are closer than they appear

                                     (Poema do retrovisor)

Vias sinuosas (long and winding roads),
Surgem-nos em patamares, arcades, que temos de completar para
Sermos homens.
Mas não é uma partida que nos salva, nem a fuga com a barriga para frente
Que nos impele a bater recordes.
É saber ir ao lado esquerdo da estrada só as vezes necessárias para
Com toda a minúcia ultrapassar as pedras que as retinas cansadas
Nos semeiam nas artérias.

E, por fim, intuímos que olhar para trás, estúpido Orfeu,
Engana-nos toda a saída.


                                             Paulo José Borges




desenho de Rui Cavaleiro