terça-feira, 29 de abril de 2014

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Four / Twenty five (esboço #40)

Abril encarnou na praça
Uma canção cravejada de flores
E o povo saiu à rua
De lágrimas em punho.

O momento respirou fundo a ganhar tempo
E acordaram todos felizes para sempre.


                     Paulo José Borges



quinta-feira, 17 de abril de 2014

POEMA INVADIDO POR ROMANOS de Juan Manuel Roca



Os romanos eram maliciosos.

Encheram a Europa de ruínas
Conjurados com o tempo.

Interessava-lhes o futuro,
Os traços mais do que as pegadas.

Os romanos, Cassandra, eram manhosos.

Não imaginaram o Aqueduto de Segóvia
Como uma conduta de água e de luz.
Pensaram-no como vestígio,
Como um absorto passado.

Semearam de edifícios musgosos a Europa,
De estátuas acéfalas
Engolidas pela glória de Roma.

Não fizeram o Coliseu
Para que os tigres devorassem
Por capricho seu os cristãos,
tão pouco apetecíveis,
Nem para ver trespassados
Como aperitivos do inferno
os exércitos de Espártaco.

Pensaram a sua ruína, uma ruína proporcional
à sombra mordida pelo sol que agoniza.

O meu amigo Dino Campana
Poderia ter saltado à jugular
De um dos seus deuses de mármore.

Os romanos dão muito em que pensar.

Por exemplo,
Num cavalo de bronze
da Piazza Bianca.
No momento de o restaurar,
Ao assomarem à boca aberta,
Encontraram no ventre
esqueletos de pombas.

Como o teu amor,
Que se torna ruína
Quando mais o construo.

O tempo é romano.



de Juan Manuel Roca traduzido por Nuno Júdice in http://bibliotecariodebabel.com/