terça-feira, 17 de dezembro de 2013

És demasiado novo


"És demasiado novo
Para entenderes certas coisas."

Imberbe nas vias sinuosas
Cândido a subires patamares de elevador -
- és demasiado novo para intuíres que as coisas
Não são (para) saberes.

E que se o souberes
Morres
Sempre demasiado novo.

Paulo José Borges

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Obrigadinho Escher




Estou cheio de ideias avisadas
Ressalvo já.
Só desconheço as escadas
Que vão dar lá.



                          Paulo José Borges

Maurits Cornelis Escher

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Recado Salazarento






Recado Salazarento
(fora de tempo)




                Beware of the folding chair



                                                                                                                   Paulo José Borges



A felicidade

A felicidade
Cai
No lado errado
Da Sorte.

A felicidade
Cai
Longe das minhas mãos.

A felicidade
despenha-se
entre as árvores

toda a gente se queixa.


                               Sam Shepard

O verdadeiro Gomes Ferreira - Viver sempre também cansa!


Viver sempre também cansa!

O sol é sempre o mesmo e o céu azul
ora é azul, nitidamente azul,
ora é cinza, negro, quase verde...
Mas nunca tem a cor inesperada.

O Mundo não se modifica.
As árvores dão flores,
folhas, frutos e pássaros
como máquinas verdes.

As paisagens também não se transformam.
Não cai neve vermelha,
não há flores que voem,
a lua não tem olhos
e ninguém vai pintar olhos à lua.

Tudo é igual, mecânico e exacto.

Ainda por cima os homens são os homens.
Soluçam, bebem, riem e digerem
sem imaginação.

E há bairros miseráveis, sempre os mesmos,
discursos de Mussolini,
guerras, orgulhos em transe,
automóveis de corrida...

E obrigam-me a viver até à Morte!

Pois não era mais humano
morrer por um bocadinho,
de vez em quando,
e recomeçar depois, achando tudo mais novo?

Ah! se eu pudesse suicidar-me por seis meses,
morrer em cima dum divã
com a cabeça sobre uma almofada,
confiante e sereno por saber
que tu velavas, meu amor do Norte.

Quando viessem perguntar por mim,
havias de dizer com teu sorriso
onde arde um coração em melodia:
"Matou-se esta manhã.
Agora não o vou ressuscitar
por uma bagatela."

E virias depois, suavemente,
velar por mim, subtil e cuidadosa,
pé ante pé, não fosses acordar
a Morte ainda menina no meu colo...

                                                 José Gomes Ferreira

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Imberbinho


  


Quando eu era pequenino
Tinha muita falta de visão
Compraram-me uns óculos e deram-me a mão.


Paulo José Borges



                                                                     
Rui Cavaleiro

sexta-feira, 26 de abril de 2013

A minha mãe



A minha mãe sempre me disse
Toma atenção:
Não escrevas o que te digo
Grava-o no teu coração.


                             Paulo José Borges