Na minha rua viviam
a Brazelina,
a Durvalina
o Porfírio,
a Aureliana
a Miquelina
a Iria
a Mimosa
a Evangelina
o Maximiliano
a Graziela
e até a Liberdade
o que é mais do que suficiente para que
vos roais de inveja.
só ainda não vos disse
que vivi a dois passos da
Felicidade.
Paulo José Borges
sábado, 30 de dezembro de 2017
sábado, 23 de dezembro de 2017
Poema always legal
para Rui Cavaleiro
acordo intermitente a meio
da noite com alterações climáticas
tenho calor e frio
sonhos cor de rosa e de breu.
às vezes sozinho às vezes solitário
tenho vigílias de icebergue e de solário.
tudo isto é assim sem mais explicações
seria abastado se ganhasse às frustrações.
Paulo José Borges
sexta-feira, 15 de dezembro de 2017
Poema eficaz
ao passar pela página 232 de
Explicação dos pássaros de António Lobo Antunes
Tomei hoje de manhã
a vacina da gripe contra a solidão.
Já me sinto quase imunizado.
Paulo José Borges
sexta-feira, 1 de dezembro de 2017
Poema suave ao toque
o que tenho de melhor
são as minhas
mãos
já não há molde
para isto
as minhas mãos
estão sempre quentes, sabes
ah pois
não sabes
Paulo José Borges
Clica aqui para seguires a linha da vida
são as minhas
mãos
já não há molde
para isto
as minhas mãos
estão sempre quentes, sabes
ah pois
não sabes
Paulo José Borges
Clica aqui para seguires a linha da vida
domingo, 19 de novembro de 2017
Poema intumescido
há versos teimosos
como raízes de árvores que levantam a calçada
e te alteram todo o passeio.
Paulo José Borges
Clica aqui para que o hematoma diminua
como raízes de árvores que levantam a calçada
e te alteram todo o passeio.
Paulo José Borges
Clica aqui para que o hematoma diminua
sábado, 18 de novembro de 2017
Poema da baliza aberta
[versão soft]
Isolaram-te com um passe a rasgar, meu.
(O número 10 da tua equipa é um jogador
de antologia.)
Quase nem precisas de ajeitar a bola,
está ali à tua mercê,
de graça.
Vais ter a lata de simular falta só porque o central
te tocou de raspão? Vais tentar arrancar-lhe o vermelho?
Ou vais fazer aquilo para que te convocaram?
Mete a bola lá dentro!
Quantas equações matemáticas te faltam ainda,
quantos silogismos e sofismas?
Mete-a lá dentro nem que o estádio esteja completamente vazio.
Não me lixes, carago!
domingo, 24 de setembro de 2017
Poema de quando entro em casa
A verdade é que já não consigo suster
o vosso olhar de censura quando acabo de
entrar no apartamento.
Emoldurados olhais-me em silêncio que é o que me inquieta mais
e perguntais-me sempre em tom magoado:
- Foi para isto que te engendramos?
Ou em estrangeiro:
- Is this your best shot?
Pois, lamento mas vou ter de vos guardar num armário
numa caixa.
Eu prometo que vos embrulho com cuidado
protejo o vidro da moldura e
e garanto que estareis sempre comigo muito mais do que
quando não pegava no telefone.
Mas entendam que já não consigo ver-me no espelho duplicado das vossas
fotografias e ficar sempre a perder na comparação.
Sim, também acontece adivinhar-vos as dúvidas
as descrenças, o pânico, as insónias tão fluorescentes quanto as minhas.
Mas pronto tem de ser.
Também ninguém entra aqui.
Ninguém me censurará a insensibilidade de arquivar
entes queridos num armário já sobrelotado.
© Paulo José Borges
o vosso olhar de censura quando acabo de
entrar no apartamento.
Emoldurados olhais-me em silêncio que é o que me inquieta mais
e perguntais-me sempre em tom magoado:
- Foi para isto que te engendramos?
Ou em estrangeiro:
- Is this your best shot?
Pois, lamento mas vou ter de vos guardar num armário
numa caixa.
Eu prometo que vos embrulho com cuidado
protejo o vidro da moldura e
e garanto que estareis sempre comigo muito mais do que
quando não pegava no telefone.
Mas entendam que já não consigo ver-me no espelho duplicado das vossas
fotografias e ficar sempre a perder na comparação.
Sim, também acontece adivinhar-vos as dúvidas
as descrenças, o pânico, as insónias tão fluorescentes quanto as minhas.
Mas pronto tem de ser.
Também ninguém entra aqui.
Ninguém me censurará a insensibilidade de arquivar
entes queridos num armário já sobrelotado.
© Paulo José Borges
sexta-feira, 11 de agosto de 2017
Poema reclinado
gosto que venha o calor
só para te ver assim na praia
em lânguido abandono
a tez dourada o corpo untado
um ócio todo estendido
podia continuar mais estas linhas
mas tenho receio que fique um pouco
umbíguo
Paulo José Borges
só para te ver assim na praia
em lânguido abandono
a tez dourada o corpo untado
um ócio todo estendido
podia continuar mais estas linhas
mas tenho receio que fique um pouco
umbíguo
Paulo José Borges
terça-feira, 18 de julho de 2017
Poema do recado dos deuses
para Alice Vieira
Será que eu sonho?
Será que eu choro?
Sou o rei sou o bobo
Tenho manto ceptro e coroa
Toucinho favas e boroa
Tenho caule flor espinho
Tenho chibata pancada pelourinho
Tenho o sol o ar o sal
Tenho razão tu é que vês mal
Confundi farinha com moinhos
Calcaste o sal e os carinhos.
Será que eu sonho?
Será que eu choro?
Sou um bobo sou real
Quanto custa a lua?
Quanto pesa o amor?
O que é que estou a pensar?
- Que os sonhos são pecados dos deuses.
Tiraste-me as palavras da boca.
Paulo José Borges
Será que eu sonho?
Será que eu choro?
Sou o rei sou o bobo
Tenho manto ceptro e coroa
Toucinho favas e boroa
Tenho caule flor espinho
Tenho chibata pancada pelourinho
Tenho o sol o ar o sal
Tenho razão tu é que vês mal
Confundi farinha com moinhos
Calcaste o sal e os carinhos.
Será que eu sonho?
Será que eu choro?
Sou um bobo sou real
Quanto custa a lua?
Quanto pesa o amor?
O que é que estou a pensar?
- Que os sonhos são pecados dos deuses.
Tiraste-me as palavras da boca.
Paulo José Borges
domingo, 9 de julho de 2017
Poema das doze casas
Nas minhas traseiras há
doze casas. Doze lares depois da fábrica abandonada.
Há a senhora que alimenta gaivotas como baratas
que me roubam o sono e pombos.
Alimenta gatos por uma tábua que lhes serve de ponte
levadiça e plantas.
Há a que recebe a família para almoços
buliçosos no pátio.
Há a que por cima atira sopas de pão às aves.
Há os que plantam ervas e legumes em vasos.
Há os cães.
Há a jovem miss Torso
mas com marido, ágil como uma bailarina.
Há a que vem fumar nos intervalos de um
lar de terceira idade ilegal.
(Há os outros que não contam para esta história.)
Há doze fogos sempre acesos nas traseiras
cujas chaminés não funcionam,
como saídas de emergência desativadas.
E frequentemente há o sol
cor de fogo quando foge.
Há por fim a chaminé de outra antiga fábrica
longa como uma interminável dor
que me aparta do meu afastamento.
Paulo José Borges
clica aqui para ouvires
doze casas. Doze lares depois da fábrica abandonada.
Há a senhora que alimenta gaivotas como baratas
que me roubam o sono e pombos.
Alimenta gatos por uma tábua que lhes serve de ponte
levadiça e plantas.
Há a que recebe a família para almoços
buliçosos no pátio.
Há a que por cima atira sopas de pão às aves.
Há os que plantam ervas e legumes em vasos.
Há os cães.
Há a jovem miss Torso
mas com marido, ágil como uma bailarina.
Há a que vem fumar nos intervalos de um
lar de terceira idade ilegal.
(Há os outros que não contam para esta história.)
Há doze fogos sempre acesos nas traseiras
cujas chaminés não funcionam,
como saídas de emergência desativadas.
E frequentemente há o sol
cor de fogo quando foge.
Há por fim a chaminé de outra antiga fábrica
longa como uma interminável dor
que me aparta do meu afastamento.
Paulo José Borges
clica aqui para ouvires
terça-feira, 4 de julho de 2017
Poema quase emotivo
Pirâmides, Ópera, Louvre
Rivoli, Tulherias, mas
Palais Royal.
Da janela via-se em linha reta o
Sagrado Coração ao alto.
Serviam-se a si próprios em frente no Monoprix
Chez Paul.
Champs Élysées, Étoile, Arco do Triunfo,
Depois Orsay e outra vez Orsay como se fosse
uma estação central junto ao Sena.
Lafayette, Samaritaine, Halles
Mas muito Capucines, Madeleine, Vandoma.
Montparnasse patética ao largo de Eiffel e muito ao longe
la Défense à esquerda e
à direita Mitterrand.
Austerlitz, Bir-Hakeim. Sebastopol,
La Motte-Picquet.
Napoleão inválido
Dali, Picasso, Carnavalet, Villette, Marais, Vosges, Hugo,
Sorbonne, Luxemburgo
E Orsay.
E do outro lado Joana d' Arc a acenar aos ciclistas
Charles de Gaulle, Orly.
Paulo José Borges
Rivoli, Tulherias, mas
Palais Royal.
Da janela via-se em linha reta o
Sagrado Coração ao alto.
Serviam-se a si próprios em frente no Monoprix
Chez Paul.
Champs Élysées, Étoile, Arco do Triunfo,
Depois Orsay e outra vez Orsay como se fosse
uma estação central junto ao Sena.
Lafayette, Samaritaine, Halles
Mas muito Capucines, Madeleine, Vandoma.
Montparnasse patética ao largo de Eiffel e muito ao longe
la Défense à esquerda e
à direita Mitterrand.
Austerlitz, Bir-Hakeim. Sebastopol,
La Motte-Picquet.
Napoleão inválido
Dali, Picasso, Carnavalet, Villette, Marais, Vosges, Hugo,
Sorbonne, Luxemburgo
E Orsay.
E do outro lado Joana d' Arc a acenar aos ciclistas
Charles de Gaulle, Orly.
Paulo José Borges
sexta-feira, 26 de maio de 2017
Poema da melancolia
«E de feito, não houvera conselho,
remedio nem esforço que me valera,
segundo entendo, porque com fisicos,
confessores e amigos falava,
e nom prestava cousa.»
D. Duarte
e principalmente
não me digas
não fiques assim
não me digas
vai espairecer
não me digas
daqui a um ano
vais olhar para isto
e vais-te rir
não me digas
arrebita
tens de comer
e principalmente
não me digas
reage por amor de Deus
não me digas
há tanta gente no mundo que
não me digas
basta
estou cheia disto
em vez disso
sentavas-te ao meu lado
emprestavas-me o teu ombro
dizias que estavas aqui
deixavas as minhas lágrimas correr
e só me ias chegando
a girândola dos lenços
em vez disso
fazias-me silêncio
porque ao fim e ao cabo
aquilo não se resolvia de pressão
Paulo José Borges
segunda-feira, 22 de maio de 2017
História de uma canção
Não creias nela, não a adores, não a esperes e não a ames
Se ela alega que outro já a tem.
Não te vergues, não te contorças de dor. É tudo
Tão indigno de ti.
Larga-a, bebe mais, dorme até ao mais cruel abril.
Não deixes que se cure a doença auto-imune que trazes em ti
- La plus difficile -
A vida.
Paulo José Borges
Se ela alega que outro já a tem.
Não te vergues, não te contorças de dor. É tudo
Tão indigno de ti.
Larga-a, bebe mais, dorme até ao mais cruel abril.
Não deixes que se cure a doença auto-imune que trazes em ti
- La plus difficile -
A vida.
Paulo José Borges
domingo, 14 de maio de 2017
Poema do Father Mckenzie
Escreve sempre escreve muito.
Envia bilhetinhos cartas missivas epístolas.
Escreve escreve redige tudo.
Envia SMS DMs melga-nos por Messenger.
Bloqueia-nos os silêncios.
Se o sal não salga
a pimenta não arde
o açúcar não adoça
o limão não amarga
escreve ainda mais.
Prega a peixe.
Não permitas que o cerco se feche.
Foge entrelinhas.
Ora ora muito por nós.
Manda-nos um fax um telex um email
um telegrama faz um telefonema
usa o telégrafo
usa o código Morse
tecla SOS com acento no ó.
Paulo José Borges
para ouvires clica aqui
Envia bilhetinhos cartas missivas epístolas.
Escreve escreve redige tudo.
Envia SMS DMs melga-nos por Messenger.
Bloqueia-nos os silêncios.
Se o sal não salga
a pimenta não arde
o açúcar não adoça
o limão não amarga
escreve ainda mais.
Prega a peixe.
Não permitas que o cerco se feche.
Foge entrelinhas.
Ora ora muito por nós.
Manda-nos um fax um telex um email
um telegrama faz um telefonema
usa o telégrafo
usa o código Morse
tecla SOS com acento no ó.
Paulo José Borges
para ouvires clica aqui
segunda-feira, 1 de maio de 2017
Poema de ângulo inverso
Volta e meia recordo o início de um romance
em que um condutor viaja por uma estrada sinuosa.
À saída de uma curva encontra um homem desprecavido.
O homem do carro tinha tempo para travar ou para se desviar mas decidiu prosseguir.
Sinto que este acontecimento é uma espécie de metáfora da minha vida.
Só não consigo descodificá-la.
Sou quem conduz? Sou o veículo? Sou a vítima?
Sou a estrada?
Às tantas isto é tudo um grande oxímoro.
Paulo José Borges
em que um condutor viaja por uma estrada sinuosa.
À saída de uma curva encontra um homem desprecavido.
O homem do carro tinha tempo para travar ou para se desviar mas decidiu prosseguir.
Sinto que este acontecimento é uma espécie de metáfora da minha vida.
Só não consigo descodificá-la.
Sou quem conduz? Sou o veículo? Sou a vítima?
Sou a estrada?
Às tantas isto é tudo um grande oxímoro.
Paulo José Borges
quarta-feira, 26 de abril de 2017
Poema do hic et nunc
para o Rui
Acordas, saltas da cama e logo uma
parte de ti
ficou dentro do quarto.
Sais a correr aos pedaços, comes pelo caminho aos bocados,
entras para o comboio, as portas trancam-se e
parte de ti
ficou no cais.
(Esta até a mim me doeu).
Fragmentas-te no sono, enquanto dormitas no trajecto, mas
parte de ti
ficou pendurada na rapariga que, por incrível que pareça,
estava a ler um livro.
Chegas ao trabalho, mas
parte de ti
foi lá ter, a meter a fralda p´ra dentro,
com a barba por fazer.
..........................................................
Regressas. A tua voz ficou lá para trás;
não te trouxeste todo.
Avançaste o dia inteiro a mais de 24 frames
por segundo.
Não te admires se ao espelho deres conta
de te faltarem não sei quantos píxeis.
Ainda não acabaste de chegar.
Parte de ti ficar.
terça-feira, 25 de abril de 2017
Four / Twenty Five (esboço #45)
Abril encarnou na praça
uma canção cravejada de flores
e o povo saiu à rua
de lágrimas em punho.
O momento respirou fundo a ganhar tempo
e acordaram todos felizes para sempre.
Paulo José Borges
quinta-feira, 20 de abril de 2017
Poema do Carcereiro
mordo os meu lábios com força
beijo como a Florbela mas a mim mesmo.
amordaço-me manieto os meus melhores
intentos
algemo-me agrilhoo-me
coloco bolas pesadas nos pés
sou cativo fechado por dentro.
uso colete de forças
correntes e mergulho de cabeça para baixo:
Houdini de trazer por casa com síndrome de
Estocolmo cercado por dentro.
que soco poderoso no estômago só de
imaginar o rio depois do fosso.
falando verdade
depois de cada passo à bebé olho para trás
e orgulho-me de cada cratera cavada
com desvelo.
o passo seguinte? não sei.
minha mãe, dá licença?
Paulo José Borges
(para ouvir clique aqui.)
beijo como a Florbela mas a mim mesmo.
amordaço-me manieto os meus melhores
intentos
algemo-me agrilhoo-me
coloco bolas pesadas nos pés
sou cativo fechado por dentro.
uso colete de forças
correntes e mergulho de cabeça para baixo:
Houdini de trazer por casa com síndrome de
Estocolmo cercado por dentro.
que soco poderoso no estômago só de
imaginar o rio depois do fosso.
falando verdade
depois de cada passo à bebé olho para trás
e orgulho-me de cada cratera cavada
com desvelo.
o passo seguinte? não sei.
minha mãe, dá licença?
Paulo José Borges
(para ouvir clique aqui.)
domingo, 16 de abril de 2017
terça-feira, 11 de abril de 2017
Poema do até sempre
olá
vim só dizer-te adeus.
é
os enredos são muito rápidos
nos meus cenários.
dialogámos imenso no meu guião
fizemos tudo
da sedução à rendição
tudo.
fui sempre assim
grandes longas metragens
na minha mente, preenchendo lacunas
entre sorrisos teus
tudo à base de argamassa da ficção.
se te dissesse flores, pedras, rebanhos
era só trama
desesperada.
não
digo-te adeus.
nem sequer será narrativa aberta
fade out
(grande filme)
FINE
Paulo José Borges
vim só dizer-te adeus.
é
os enredos são muito rápidos
nos meus cenários.
dialogámos imenso no meu guião
fizemos tudo
da sedução à rendição
tudo.
fui sempre assim
grandes longas metragens
na minha mente, preenchendo lacunas
entre sorrisos teus
tudo à base de argamassa da ficção.
se te dissesse flores, pedras, rebanhos
era só trama
desesperada.
não
digo-te adeus.
nem sequer será narrativa aberta
fade out
(grande filme)
FINE
Paulo José Borges
domingo, 26 de março de 2017
Poema escancarado
Não leves a mal este pequeno reparo
Não te sentes ao meu lado
Não me sorrias não me abraces
Não apareças
Pela tua saudinha
Não faças that thing you do
Não me cheires bem
Não me sorrias não me abraces
Se apareceres desconhece-me
desgosta-me
Não me trates bem
Não suporto isso
Não me fales com a tua voz de mil cores
Não me apareças
Não te vás embora
Acima de tudo não te mexas
Que me abalas todo.
Podes ir
Fecha a porta
Não me sorrias não me abraces.
Paulo José Borges
Não te sentes ao meu lado
Não me sorrias não me abraces
Não apareças
Pela tua saudinha
Não faças that thing you do
Não me cheires bem
Não me sorrias não me abraces
Se apareceres desconhece-me
desgosta-me
Não me trates bem
Não suporto isso
Não me fales com a tua voz de mil cores
Não me apareças
Não te vás embora
Acima de tudo não te mexas
Que me abalas todo.
Podes ir
Fecha a porta
Não me sorrias não me abraces.
Paulo José Borges
sábado, 11 de março de 2017
Poema fechado à chave
desenho de Rui Cavaleiro
Quando menos esperares,
Vou irromper por essa porta,
Cruzar essa entrada,
Enfiar-me por esse acesso,
Ultrapassar esse limiar,
Enveredar por essa abertura,
Penetrar por essa ombreira,
Insinuar-me por essa fenda,
Introduzir-me por esse umbral adentro,
Infiltrar-me por essa soleira,
Galgar esse portão.
E depois nem queiras saber...
O que não seria se vivesses mais perto...
Paulo José Borges
domingo, 5 de março de 2017
Poema de não ver
a cegueira é a primeira e
a última nudez
é voltar à infância num quarto escuro
e rirmo-nos muito
do nervoso
com medo de que quem nos toque
assuste (maior insídia seria que nos abraçassem)
e esperar esperar já de riso
embaciado
afinal quando é que nos acendem a luz
Paulo José Borges
a última nudez
é voltar à infância num quarto escuro
e rirmo-nos muito
do nervoso
com medo de que quem nos toque
assuste (maior insídia seria que nos abraçassem)
e esperar esperar já de riso
embaciado
afinal quando é que nos acendem a luz
Paulo José Borges
quarta-feira, 1 de março de 2017
Poema do num sei
o humor pode ser aguda lança
o silêncio pode ser falta de respeito ou ignorância
dar-te conselhos pode ser a mais profunda arrogância
o que queres de mim afinal
Paulo José Borges
o silêncio pode ser falta de respeito ou ignorância
dar-te conselhos pode ser a mais profunda arrogância
o que queres de mim afinal
Paulo José Borges
segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017
Poema do silêncio
O que é que fiz agora?
Já meti água outra vez?
Não entendo.
Só porque quis ter o furto proibido?
Paulo José Borges
Já meti água outra vez?
Não entendo.
Só porque quis ter o furto proibido?
Paulo José Borges
desenho de Rui Cavaleiro
sábado, 25 de fevereiro de 2017
Poema das escondidinhas
... noventa e seis, noventa e sete, noventa e oito, noventa e nove, cem.
Alerta alerta: quem ficar atrás de mim fica fica fica mesmo.
Já sei onde estás. Vai ser fácil.
No armário, debaixo da cama, atrás do cortinados, na sala,
na cozinha, na casa de banho...................................
.................................................................................
Ah, estás lá fora, Espera que já te encontro.
Atrás do carro, na carrinha de caixa aberta,
nos arbustos, atrás da roupa a corar, nos tanques,
no patamar do quarto andar.....................................
.................................................................................
Já chega, estou há que tempos nisto.
Aparece. Estás a ouvir? Aparece.
Não está a ter piada. Ganhaste. Aparece.
Que rico amigo me saíste.
Alerta alerta: quem vier atrás de mim fica fica fica mesmo.
Paulo José Borges
Alerta alerta: quem ficar atrás de mim fica fica fica mesmo.
Já sei onde estás. Vai ser fácil.
No armário, debaixo da cama, atrás do cortinados, na sala,
na cozinha, na casa de banho...................................
.................................................................................
Ah, estás lá fora, Espera que já te encontro.
Atrás do carro, na carrinha de caixa aberta,
nos arbustos, atrás da roupa a corar, nos tanques,
no patamar do quarto andar.....................................
.................................................................................
Já chega, estou há que tempos nisto.
Aparece. Estás a ouvir? Aparece.
Não está a ter piada. Ganhaste. Aparece.
Que rico amigo me saíste.
Alerta alerta: quem vier atrás de mim fica fica fica mesmo.
Paulo José Borges
terça-feira, 14 de fevereiro de 2017
Poema da porta no meio da parede
By our daylight standard he walked out of security
into darkness, danger and death.
But did he see like that?
H. G. Wells «The door in the wall»
into darkness, danger and death.
But did he see like that?
H. G. Wells «The door in the wall»
(Era uma porta enferrujada e ela entrou). Fora um impulso,
um capricho que agora lhe poderia trazer consequências nefastas.
A porta, que ainda mostrava claros vestígios de cor verde, gemeu
como um vago lamento. Porém, ela, absorta, obstinada, avançou
com passos seguros pelo jardim bem tratado que se abria perante seus olhos.
Estivera ali, sem dúvida, um jardineiro prendado que semeara
canteiros tão arrumados.
A porta, que ainda mostrava claros vestígios de cor verde, gemeu
como um vago lamento. Porém, ela, absorta, obstinada, avançou
com passos seguros pelo jardim bem tratado que se abria perante seus olhos.
Estivera ali, sem dúvida, um jardineiro prendado que semeara
canteiros tão arrumados.
Avançou ainda mais um pouco e, sem acreditar,
apercebeu-se de duas panteras a brincar com uma bola.
E logo sua mente sináptica reconheceu os felídeos do conto de H. G. Wells.
Estacou, aguçou a vista, a procurar o rapaz, a jovem e a senhora
que mostrara ao protagonista o livro da sua vida. Mas deles nem vislumbre.
Decidida a não desistir, depois de mal ter dado azo ao seu ímpeto inicial,
caminhou em direção à floresta plúmbea que se oferecia mais à esquerda.
Embrenhou-se, perscrutou, procurou palavras para mais tarde contar
o indizível, o incomensurável, mas sobretudo para saber como ia
acabar esta história.
apercebeu-se de duas panteras a brincar com uma bola.
E logo sua mente sináptica reconheceu os felídeos do conto de H. G. Wells.
Estacou, aguçou a vista, a procurar o rapaz, a jovem e a senhora
que mostrara ao protagonista o livro da sua vida. Mas deles nem vislumbre.
Decidida a não desistir, depois de mal ter dado azo ao seu ímpeto inicial,
caminhou em direção à floresta plúmbea que se oferecia mais à esquerda.
Embrenhou-se, perscrutou, procurou palavras para mais tarde contar
o indizível, o incomensurável, mas sobretudo para saber como ia
acabar esta história.
Paulo José Borges
quinta-feira, 19 de janeiro de 2017
Poema fotovoltaico
Vivi na rua do Sol Poente
Mas o apartamento dava para a rua Sol Nascente
A sério.
Agora avariou-se-me o termostato
Ora o sol é incandescente
Ora morde algidamente
A sério.
Paulo José Borges
Mas o apartamento dava para a rua Sol Nascente
A sério.
Agora avariou-se-me o termostato
Ora o sol é incandescente
Ora morde algidamente
A sério.
Paulo José Borges
domingo, 8 de janeiro de 2017
Poema da luz
«...já reparaste como as pessoas olham para nós? É porque temos uma luz.»
A Terceira Rosa, Manuel Alegre.
A Terceira Rosa, Manuel Alegre.
Por muito que me custe admitir, confessar?, já te vejo ao longe,
Beijo-te muito ao longe.
Já me impeli a partir e os passos não me tropeçam tanto.
Já te vejo, acredita, já te vejo pequenina, recém-crescida,
A sorrires com os teus melhores abraços.
Subo mais alto, uso a palma da mão para que a luz não me cegue, e estou
Cada vez mais certo: vens em missão, salvar-me com vento, despentear-me todo
E fazeres-te toda unguento.
Os meus olhos não me mentem, até porque agora os mantenho fechados,
Como noiva a duvidar até ao último momento,
E os meus átomos já se alinham todos cavalheiros,
Segurando a porta que trouxeste contigo.
Subscrever:
Mensagens (Atom)