Nas minhas traseiras há
doze casas. Doze lares depois da fábrica abandonada.
Há a senhora que alimenta gaivotas como baratas
que me roubam o sono e pombos.
Alimenta gatos por uma tábua que lhes serve de ponte
levadiça e plantas.
Há a que recebe a família para almoços
buliçosos no pátio.
Há a que por cima atira sopas de pão às aves.
Há os que plantam ervas e legumes em vasos.
Há os cães.
Há a jovem miss Torso
mas com marido, ágil como uma bailarina.
Há a que vem fumar nos intervalos de um
lar de terceira idade ilegal.
(Há os outros que não contam para esta história.)
Há doze fogos sempre acesos nas traseiras
cujas chaminés não funcionam,
como saídas de emergência desativadas.
E frequentemente há o sol
cor de fogo quando foge.
Há por fim a chaminé de outra antiga fábrica
longa como uma interminável dor
que me aparta do meu afastamento.
Paulo José Borges
clica aqui para ouvires
Gostei muito!
ResponderEliminarObrigado. Faz-se o que se pode.
Eliminarmerci pour cette fable contemporaine pleine de sons, de couleurs d'images et de douleur.
ResponderEliminarTrès beau
Thank you, Luce. I know you mean it.
Eliminar(But I'm not sure the pain was real).