sexta-feira, 11 de maio de 2018

Como nos filmes

Quando apareceste
(até me vem o sorriso aos olhos)
senti-te logo como o calor da
terra quente que nos sai ao
caminho logo pela manhã.

De soslaio meti-te logo
no bolso de dentro e levantei a gola
para me convencer do disfarce.
Tudo ali tinha tudo para ser
um lugar inusitado
mas talvez por isso o teu olhar
se tenha emaranhado todo no meu.
Sim foi por isso que não consegui
desfiar
o olhar.

Mas o grande mistério do mundo
é que quisesses livre e deliberada
vir habitar o meu forro
sem prazo e questionamento.

Levei-te para o meu quarto
de hotel
como nos filmes
onde com pouquíssima roupa
qual conluiada com Vénus (dos amores)
olhavas da janela as ilhas
de gentes lá em baixo (e os rumores).

O que me massacrava as meninges
apertadas em torniquete era a pergunta de
Sophia: que faria eu com a tua inocência?

Virámos entretanto a cidade do avesso
escolhi alcatifas à distância
tirei fotografias de conveniência
e quando tudo podia ter acontecido
porque éramos guardiões do nosso exclusivo
tempo e porque
o que quer que fizéssemos seria justo e certo
fizemos o que nos pareceu justo e certo:
desejámo-nos sorte, coisas boas e
memória eterna.

Depois encontrei-te já de táxi
como nos filmes
saí para o meio da multidão
sussurrei-te ao ouvido um
beijo escarlate e só muito mais tarde
me lembrei do casaco.


                                               Paulo José Borges

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